bloco um
TEOREMAS
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Eis que foi indispensável estar com outras pessoas.
No final de 2018 entre a ressaca política de um golpe e a iminente vinda de tempo difíceis, buscando modos de resistir, Felipe e eu começamos a gestar o desejo de uma criação que presaria pela coletividade como modo único de mover.
Como sempre, basta um respingo de idéia, pra que juntos, rapidamente tudo tome forma, corpo. Em poucos dias, sabíamos (Felipe e eu) como seria a performance, suas estruturas, dramaturgia e corpo. Logo vimos que as questões que tem nos cercado em todas as criações (pelo menos até agora), mais uma vez se apresentavam e consequentemente uma “idéia de corpo” (de como opera, se articula, desenha) se tornava cada vez mais clara pra nós. Percebemos que sem que tivéssemos nos proposto a isso, tínhamos desenvolvido uma tecnologia corporal que instrumentalizava-nos como intérpretes de nossas criações. Pareceu óbvio, então, que promovêssemos o compartilhamento desta tecnologia, inclusive para construirmos o elenco da performance.
No desafio instigante de ensinar uma tecnologia em constante desenvolvimento (inclusive no seu âmbito teórico), vimo-nos no CRD com um grupo de pessoas ávidas por criar, sedentas por trocar idéias e mergulhar na tecnologia corporal que estávamos propondo. Fomos surpreendidos pela rapidez com que o compartilhamento aconteceu e com o a riqueza de cada encontro. Acreditamos que as pessoas se escolhem, e com o tempo naturalmente organizou-se um grupo de pessoas muito envolvidas em refinar vocabulários, dividir referências e construir o arsenal teórico-prático dessa tecnologia corporal de “Felipe Teixeira e Mariana Molinos”.
No final de 2018 entre a ressaca política de um golpe e a iminente vinda de tempo difíceis, buscando modos de resistir, Felipe e eu começamos a gestar o desejo de uma criação que presaria pela coletividade como modo único de mover.
Como sempre, basta um respingo de idéia, pra que juntos, rapidamente tudo tome forma, corpo. Em poucos dias, sabíamos (Felipe e eu) como seria a performance, suas estruturas, dramaturgia e corpo. Logo vimos que as questões que tem nos cercado em todas as criações (pelo menos até agora), mais uma vez se apresentavam e consequentemente uma “idéia de corpo” (de como opera, se articula, desenha) se tornava cada vez mais clara pra nós. Percebemos que sem que tivéssemos nos proposto a isso, tínhamos desenvolvido uma tecnologia corporal que instrumentalizava-nos como intérpretes de nossas criações. Pareceu óbvio, então, que promovêssemos o compartilhamento desta tecnologia, inclusive para construirmos o elenco da performance.
No desafio instigante de ensinar uma tecnologia em constante desenvolvimento (inclusive no seu âmbito teórico), vimo-nos no CRD com um grupo de pessoas ávidas por criar, sedentas por trocar idéias e mergulhar na tecnologia corporal que estávamos propondo. Fomos surpreendidos pela rapidez com que o compartilhamento aconteceu e com o a riqueza de cada encontro. Acreditamos que as pessoas se escolhem, e com o tempo naturalmente organizou-se um grupo de pessoas muito envolvidas em refinar vocabulários, dividir referências e construir o arsenal teórico-prático dessa tecnologia corporal de “Felipe Teixeira e Mariana Molinos”.
Hoje sabemos que nossos métodos, ainda que não sejam tradicionais, incluem (além da criação e a prática de exercícios que viabilizam a experiência dessa construção no corpo) pesquisas teóricas em artes, filosofia, psicanálise, cinema, fotografia, etc…, assim como o uso de metáforas para construir imagens que transpassem os limites das palavras dando formas, densidades, cheiro, gosto, sensação à construção do movimento, ampliando a compreensão do modo como nos interessa fazer uso do corpo.
É, justo na particularidade da elaboração dessa tecnologia, que emerge a necessidade de gerar registros palpáveis. Por mais que possa não parecer “científico” escrever sobre como determinada imagem produziu (na singularidade das nossas cabeças) o material que sustenta a explicação para determinado uso das articulações do braço, vimos que dividir essa concepção (tal como nos ocorreu) constrói corpo, promove alteração da percepção dos mecanismos disparadores de movimento. Compreendendo a importância de expor esses elementos estruturais do desenvolvimento da nossa pesquisa, aparece TEOREMAS, na tentativa de ser continente que acolha raízes de idéias, organização de pensamentos, coleção de imagens que ao fim, compõe e sustentam tudo que criamos.
Nada mais óbvio que agradecer à Carolina Canteli, Thaís Santos, Glaucia Rebouças, Isis Arrais, Julia Lima, Karen Marçal e Bruna Danesi pela companhia e desafio nesses meses de estudo, por nos ajudar a mapear e compreender as arestas disso que estamos desenvolvendo, complexificando conteúdos e exigindo clareza e precisão na transmissão desse conhecimento. O TEOREMAS só existe porque conversamos muito, porque nos sentimos provocados e bem acompanhados a seguir pensando e compartilhando!
Bem vindos aos rabiscos das nossas cabeças !
Abraços
TEOREMA
(HOUAISS: “ proposição que pode ser demonstrada por meio de um processo lógico”)
Abrimos aqui o fio condutor de cada micro processo que nos ocorre na construção dessa tecnologia corporal que por vezes se articula em dramaturgia e se torna obra, por vezes segue seus tortos caminhos aliançando imagem - a palavra - a corpo - a sensação - a teoria - a risco - a método - a desenho - a cor - a design - a frame - a som - a …
TEOREMA.01
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E agora eu tenho tido a vontade de gerar movimento em coisas palpáveis. Transportáveis. Compactas mas que sejam portais para esse mesmo lugar que o teatro faz, o cinema. Nas mãos. Para serem sentidos pelo tato.
Flipbooks.
Flipbooks de dança. A dança com o mesmo cuidado na abordagem e estético que os vídeos ou gifs, em uma dança impressa. Um objeto que eu posso colocar na minha mochila e carregar essa dança pra onde quer que eu vá.
Ela não me cobra quantas vezes eu assisto ela, não me pede nada em troca. Não usa bateria, não precisa de recarga. Nada.
Mas o que mais me excita disso é que essa dança, que acontece e traduz coisas pelo movimento, está num objeto fixo.
Eu gosto de colocar a minha dança nessas plataformas controversas e ainda não muito exploradas pela dança...
TEOREMA.02
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Cada vez mais identifico o desejo de construir “dispositivos mediadores de afeto”.
Talvez seja uma herança da psicologia, talvez algo que eu já carregasse em mim antes e que me levou à dança, ao teatro, à música e à psicologia… depois me presenteou com a filosofia e a matemática.
Mas independente de onde isso começa, parece-me que em algum momento ficou evidente o desejo de abrir espaço pro afeto. Não, não me refiro somente aos sentimentos amorosos, de cuidado, acolhimento, carinho, etc… ainda que hoje estejamos um tanto carentes destes recursos, quando lido com a dimensão do afeto, me remonto à sua etimologia, substantivo latino affectus,us ‘estado psíquico ou moral (bom ou mau)’ (HOUAISS).
Parece-me que reconhecer as nossas afetações, estados emocionais, é o primeiro passo pra, num futuro próximo, colocar-se em relação aos outros. Saber reconhecer em si o que sente, e as cadeias de reações que disso derivam, talvez nos dê mais recursos para desenvolver algumas ferramentas como a empatia, a escuta, a percepção, cruciais pra reconhecer a existência de um outro.
Pois bem, há alguns anos reconheci que meus desejos disparadores de criação, procuram gerar uma abertura para a sensibilização. Essa fissura, faz com que o público fatalmente identifique que sente algo. Sim! A que ponto chegamos! Se fez necessário lembrar que sentimos! Pra depois lembrar que fomos muito mal educados emocionalmente, e que, em se tratando das vias afetivas, somos completamente imaturos… Desconfio que minhas criações se pretendem mediadoras nessa elaboração dos afetos.
Aos poucos esses “objetivos” vão se tornando mais claros pra mim, mas no geral, o processo que me ocorre é “quase inverso”. Desponta um interesse, um desejo, algo que me instiga em determinada situação, uma frase, uma imagem, uma história, quase sempre a necessidade de fazer valer uma existência diante do risco iminente de sua extinção. E a partir daí vou buscar as formas que isso virá a tona. É sempre “a coisa” que me diz como aparece, às vezes é dança, às vezes perfomance, às vezes vídeo, às vezes palavra, às vezes som, mas sempre (e digo isso sem receio), sempre é a partir de um “glicth” com a realidade que o eixo central do trabalho desponta. Quando gero a distorção da percepção da passagem do tempo. Ou quando promovo imagens que em alguma medida geram um “bug” no cérebro e questionam se o que vi (ou ouvi) existiu. Ou quando a palavra atravessa uma fronteira que rompe com as gamas de possibilidades que se padronizou como reais.
Talvez seja uma herança da psicologia, talvez algo que eu já carregasse em mim antes e que me levou à dança, ao teatro, à música e à psicologia… depois me presenteou com a filosofia e a matemática.
Mas independente de onde isso começa, parece-me que em algum momento ficou evidente o desejo de abrir espaço pro afeto. Não, não me refiro somente aos sentimentos amorosos, de cuidado, acolhimento, carinho, etc… ainda que hoje estejamos um tanto carentes destes recursos, quando lido com a dimensão do afeto, me remonto à sua etimologia, substantivo latino affectus,us ‘estado psíquico ou moral (bom ou mau)’ (HOUAISS).
Parece-me que reconhecer as nossas afetações, estados emocionais, é o primeiro passo pra, num futuro próximo, colocar-se em relação aos outros. Saber reconhecer em si o que sente, e as cadeias de reações que disso derivam, talvez nos dê mais recursos para desenvolver algumas ferramentas como a empatia, a escuta, a percepção, cruciais pra reconhecer a existência de um outro.
Pois bem, há alguns anos reconheci que meus desejos disparadores de criação, procuram gerar uma abertura para a sensibilização. Essa fissura, faz com que o público fatalmente identifique que sente algo. Sim! A que ponto chegamos! Se fez necessário lembrar que sentimos! Pra depois lembrar que fomos muito mal educados emocionalmente, e que, em se tratando das vias afetivas, somos completamente imaturos… Desconfio que minhas criações se pretendem mediadoras nessa elaboração dos afetos.
Aos poucos esses “objetivos” vão se tornando mais claros pra mim, mas no geral, o processo que me ocorre é “quase inverso”. Desponta um interesse, um desejo, algo que me instiga em determinada situação, uma frase, uma imagem, uma história, quase sempre a necessidade de fazer valer uma existência diante do risco iminente de sua extinção. E a partir daí vou buscar as formas que isso virá a tona. É sempre “a coisa” que me diz como aparece, às vezes é dança, às vezes perfomance, às vezes vídeo, às vezes palavra, às vezes som, mas sempre (e digo isso sem receio), sempre é a partir de um “glicth” com a realidade que o eixo central do trabalho desponta. Quando gero a distorção da percepção da passagem do tempo. Ou quando promovo imagens que em alguma medida geram um “bug” no cérebro e questionam se o que vi (ou ouvi) existiu. Ou quando a palavra atravessa uma fronteira que rompe com as gamas de possibilidades que se padronizou como reais.
Desconfio que tudo isso tenha começado a ficar claro quando iniciei a criação de HIATO. Ainda defendendo meu projeto pra banca, marquei claramente, que tinha o desejo de que a minha performance promovesse a sensação de que, mesmo sem saber porquê, todo mundo que estivesse jardim sul sentiria que alguma coisa estava acontecendo, ainda que a priori não conseguissem reconhecer o quê. Nesse momento Juliana Moraes sugeriu o termo “perfomance invisível”, e parece que esse foi o grande disparador de tudo. Não da obra em si, mas do modo como se arquiteta uma criação em mim. Não, não tenho o desejo de, de fato ser invisível (aliás quero que cada vez mais meu trabalho circule e seja visto!), mas “mirando a invisibilidade” encontro o recurso que gera a fissura pro afeto. Quando pressuponho que preciso estar invisível, mapeio os dados que dão a dimensão do que é real, e depois, manipulando esse mapa, eu promovo uma ação que se relaciona com o público a partir da esfera da percepção e do afeto, não do que priori é racional, reconhecível ou “legendável”.
Desde HIATO tenho me debruçado muito sobre a pesquisa de modos como promover a distorção da percepção da passagem do tempo. Esta tem-se mostrado bastante eficaz na medida em que rapidamente instaura uma sensação de hiper-realidade no público, como se todas as ações assumissem uma importância nova e a todo momento a dimensão de realidade precisasse ser atualizada.
Desde que comecei as pesquisas com vídeo, parece que a porta para o estudo de novos “glitch’s” se abriu. Não me interessam os efeitos, mas sim o pacto em tempo real (enquanto a pessoa assiste) de que elementos da realidade precisaram ser remodelados, e que os parâmetros do que reconhecemos como mundo precisam ser reajustados. Para tanto, faço uso das próprias técnicas de captação, edição, som e cor da imagem. Não tem me interessado produzir o irreal, ou forjar um novo tempo usando o recurso do slow, ou fastfoward… Assim como quando uso as palavras, parece-me que brincar com o deslocamento de terminados signos tem promovido a imersão na imagem e na manufatura de uma outra realidade, que quase se sobrepões perfeitamente à nossa. Sinto que o estudo com vídeo recém começou…
No fundo desconfio que é gerando essa quase sobreposição da realidade, que aciono no público o desejo de se debruçar sobre a obra afim de ajustá-la. E o público, no exercício de compreender o que “sobra” disso que a obra apresenta como realidade, acaba se desarmando e passa a ser afetado, abrindo uma outra possibilidade de construção de narrativas e dramaturgias.
Sigo nos estudos e nas apostas.
abraços,
︎ por Mariana Molinos
TEOREMA.03
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Sou uma colecionadora.
Aos poucos esses “objetivos” vão se tornando mais claros pra mim, mas no geral, o processo que me ocorre é “quase inverso”. Desponta um interesse, um desejo, algo que me instiga em determinada situação, uma frase, uma imagem, uma história, quase sempre a necessidade de fazer valer uma existência diante do risco iminente de sua extinção.
Sem perceber, vou juntando imagens, textos, sons, fantasias e outras pequenas “bobagens” ao longo do caminho… algumas eu volto de tempos em tempos… outras só retomo quando “a coisa” me pede, mas quando pede, desponta a coleção que eu nem sabia que vinha fazendo.
Talvez seja importante esclarecer “a coisa”. Não, ainda não a tenho muito clara.
Aos poucos esses “objetivos” vão se tornando mais claros pra mim, mas no geral, o processo que me ocorre é “quase inverso”. Desponta um interesse, um desejo, algo que me instiga em determinada situação, uma frase, uma imagem, uma história, quase sempre a necessidade de fazer valer uma existência diante do risco iminente de sua extinção.
Sem perceber, vou juntando imagens, textos, sons, fantasias e outras pequenas “bobagens” ao longo do caminho… algumas eu volto de tempos em tempos… outras só retomo quando “a coisa” me pede, mas quando pede, desponta a coleção que eu nem sabia que vinha fazendo.
Talvez seja importante esclarecer “a coisa”. Não, ainda não a tenho muito clara.
10.02.2020
︎ por Mariana Molinos
TEOREMA.04
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Brevidades sobre ensino e criação.
Se tem uma coisa que aprendi como educadora e estudante de educação é que provavelmente o maior agente de transformação (do processo educativo) vem do exercício da realização da proposta. Realizar aquilo que se pretende ensinar é, em sí, ensino. (o que me parece um belo caminho pra criação).
Se tem uma coisa que aprendi como educadora e estudante de educação é que provavelmente o maior agente de transformação (do processo educativo) vem do exercício da realização da proposta. Realizar aquilo que se pretende ensinar é, em sí, ensino. (o que me parece um belo caminho pra criação).
20.03.2020
︎ por Mariana Molinos
TEOREMA.05
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Depois de ler o texto de Henrique Cartaxo no começo de Maio de 2020.
Fiquei prensando por aqui.
“Esses dias me perguntava justamente do quanto desaprendíamos do mundo sensível. Não falo do desaprender que alimenta e engrandece (esse que nos faz trilhar novos caminhos), mas o desaprendizado embrutecedor que imobiliza, que trancafia e suspende a experiência, cessa as perguntas.
Não sei dizer o quanto a cultura tem nos falhado... ainda mais quando penso que ela também fica suscetível ao modo como o homem organiza o mundo, mas sigo fazendo o exercício enorme de seguir abrindo espaço pros afetos, acolhendo os sorrisos e as angústias (sem matá-las, deixando que transbordem, que vertam em lágrimas ou palavras). É preciso se amigar do tempo, sinto que ele é o grande abrigo dos afetos, a gente se demora no amor, se demora na dor ...
Ando desconfiada que a “falta de tempo” tenha sido a armadilha pra essa grande clausura em que nos enfiamos.
21.05.2020
︎ por Mariana Molinos
FTMM
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INVESTIGAÇÃO DA DISTORÇÃO NA PERCEPÇÃO DA PASSAGEM DO TEMPO.
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